Por: Diana Silva
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Os microrganismos que habitam o nosso intestino são importantes para a saúde do nosso cérebro, assim como o bom funcionamento do sistema digestivo depende do equilíbrio do nosso sistema nervoso.
A importância que o eixo intestino-cérebro desempenha na saúde humana é conhecido, mas recentemente surgiu o papel da microbiota intestinal como um fator importante e o conceito de um eixo microbioma-intestino-cérebro foi estabelecido.
Eixo Microbioma- intestino- cérebro
O eixo intestino-cérebro é o meio de comunicação bidirecional entre o Sistema Nervoso Central (SNC) e o Trato Gastrointestinal.
É reconhecido o papel que o Sistema Nervoso Central exerce sobre o intestino, regulando funções gastrointestinais como, por exemplo, a motilidade, a secreção de mucina, produção hormonal e uma componente imunológica.
Nas últimas décadas, a microbiota intestinal foi identificada como uma chave reguladora do eixo intestino-cérebro. O intestino, aliado à sua estrutura neuronal, à comunidade microbiana e aos seus metabólitos, possui a capacidade de modular o SNC.
Os microrganismos que residem no intestino e seus metabólitos, constituem o microbioma intestinal e emergiram como um participante integral na comunicação intestino-cérebro e um eixo microbioma-intestino-cérebro foi proposto. Este eixo tem efeitos em processos digestivos, na função imunológica, no equilíbrio hormonal e até no comportamento, pois abrange vias neurais, metabólicas, mecanismos imunológicos e endócrinos
Cérebro – Intestino
Os centros neurais superiores do Sistema nervoso central modulam as atividades motoras, sensoriais e autónomas do aparelho digestivo, que são capazes de alterar as funções do trato gastrointestinal.
Em pacientes com Síndrome do Intestino Irritável, o cérebro é reconhecido como tendo um papel importante na sensação consciente na vivência dos sintomas. Estudos observaram que durante a sintomatologia de distensão abdominal houve uma maior ativação de regiões cerebrais, sobretudo, as emocionais e cognitivas.
Além disso, o Sistema nervoso entérico pode modular diretamente a composição microbiana por meio de alterações na secreção, motilidade, permeabilidade e defesa imunológica.
O stress crónico pode modificar muitas funções do intestino, incluindo permeabilidade da parede intestinal, motilidade e dor visceral, alterando também o circuito central dos sinais de dor. A transmissão das sensações de dor e a sua percepção são influenciadas pela microbiota intestinal, sustentando a visão de que o stress pode interagir com a microbiota intestinal via eixo intestino-cérebro.
Microbioma- cérebro
A microbiota intestinal refere-se ao conjunto de mircorganismo que habitam o trato gastrointestinal. Estes microrganismos e os seus metabólitos constituem o microbioma intestinal, com importantes funções na saúde humana.
Existem múltiplas vias diretas e indiretas através das quais a microbiota intestinal pode modular o eixo intestino-cérebro. Elas incluem vias endócrinas (cortisol), imunes (citocinas) e neurais (vago, sistema nervoso entérico e nervos espinhais).
São vários os neurotransmissores produzidos por espécies comensais da microbiota intestinal: como a serotonina, o GABA, as catecolaminas, a acetilcolina e a histamina. Diferentes estudos revelam que as bactérias probióticas estão aptas a produzirem substâncias neuro ativas, as quais exercem influência sobre o eixo cérebro-intestino.
Os neurotransmissores são substâncias que realizam conexões entre dois ou mais neurónios. Eles intervêm em funções como o controle motor, humor, capacidade de memória e aprendizagem, sensação de dor.
Desequilíbrios na microbiota intestinal podem influenciar alterações nos neurotransmissores, podendo contribuir para desequilíbrios de humor, ansiedade, sintomas depressivos e distúrbios neurológicos.
A relação entre neurotransmissores e diferentes bactérias intestinais está cada vez mais bem descrita. Lactobacillus sp e Bifidobacterium spp têm demostrado produzir ácido aminobutírico (GABA), Streptococcus sp, Escherichia sp. e Enterococcus spp. podem produzir serotonina, Bacillus sp. Estão envolvidos na síntese de dopamina.
O papel de metabólitos microbianos, como os ácidos gordos de cadeia curta, na saúde do sistema nervoso também está cada vez mais bem documentada na literatura científica.
Há crescentes evidencias da relação entre o Microbioma e saúde do sistema nervoso.
Um número crescente de estudos mostra que alterações na microbiota podem levar á neuro inflamação e neurodegeneração, associadas a patologias do sistema nervoso como a doença de Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla.